Quando venderam o naming rights dos árbitros

O processo de arenização do futebol trouxe consigo muitos problemas. Se por um lado afastou o torcedor comum da arquibancada devido ao preço dos ingressos, por outro introduziu no Brasil algo comum na Europa, mas pouco visto no país antes da Copa do Mundo de 2014: a venda dos naming rights, ou o direito de exploração comercial do nome dos estádios.

Enquanto alguns nomes seguem um padrão aceitável, como o Allianz Parque ou mesmo a Neo Química Arena, outros nomes tentam ser mais irreverentes e acabam, particularmente falando, me irritando profundamente. É o caso do MorumBis ou do estádio municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, cujo atual nome comercial eu me recuso a falar.

Naturalmente, isso não ficou só no futebol. Aliás, talvez tenha começado com os times de vôlei, que para conseguir dinheiro, venderam os próprios nomes. Mas logo depois estações de trem e outros espaços públicos começaram a aparecer com nomes que fogem ao propósito principal de localizar as pessoas em determinado espaço; é o comercial acima de tudo.

Caso similar aconteceu quando o prefeito de São Paulo (quem?) decidiu vender o nome do Largo da Batata para a Ruffles, transformando o espaço no Largo da Batata Ruffles. Apesar do nome caricato, seria algo completamente válido, considerando que o uso comercial do nome incluiria melhorias no espaço. O mesmo não se pode dizer do estádio do Pacaembu, que além do nome ridículo ainda é um verdadeiro canteiro de uma obra que não termina nunca, e quando foi necessário, uma chuvinha de verão alagou o campo e o jogo do dia teve que ser cancelado.

Digo tudo isso para chegar a uma ação que talvez me parecesse genial, se não fosse todo esse monte de nomes de empresas em estádios tradicionais. Na Copinha de 2025, a Bis resolveu patrocinar os árbitros, estampando na camisa de arbitragem a seguinte obra prima: árBIStro. Uma sacada genial. Naturalmente, a gente só pôde descobrir isso em um estádio conhecido pela proximidade de sua arquibancada com o campo: a Rua Javari.

Era evidente que esse tipo de ação viraria piada no estádio. E naturalmente a gente percebia alguns presentes no estádio xingando o árBIStro. Na verdade o assistente, mas dá na mesma. Mas pra mim poderia ter sido bem mais falado esse patrocínio, e bem mais usado em estádios como a Rua Javari, o Nicolau Alayon e a Ibrachina Arena.

Quando pensei em escrever esse texto, era muito mais uma história engraçada, mas acabou se transformando num desabafo. Isso porque o motivo desse patrocínio curioso ter sido pouco utilizado na Rua Javari seja a mudança do público que frequenta o estádio. É notório ver que os idosos, muitos dos quais teriam criatividade o suficiente para usar do artifício para provocar a arbitragem, estão sendo propositalmente afastados dos estádios, com anuência da Federação Paulista de Futebol, que insere de forma quase patética a obrigação do reconhecimento facial para a entrada no estádio, sem parecer ter estudado o público que frequenta os jogos da Copinha, e nem levado em consideração que muitos não possuem meios de reservar os ingressos no aplicativo onde até mesmo os jovens possuem dificuldade para aprender a mexer. Na Javari, em específico, a organização da Copinha de 2025 deixou muito a desejar, principalmente devido a inversões de mando sem aviso prévio, o que prejudicou deliberadamente o público da Copinha, que gosta de ir para assistir à rodada dupla. E sinceramente, me parece que a polícia tem preguiça de trabalhar, pois havia formas de alterar o mando sem prejudicar a torcida.

Mas para além da organização, a molecada da geração Kings League, a galera da dopamina a todo momento, do entretenimento, preferiu muito mais usar um recurso que usado de forma pontual foi até engraçado, mas quando utilizado em todos os jogos passou a ser também patético: entrar no Instagram, descobrir o nome da namorada dos goleiros, e ficar xingando as meninas. Até a torcida visitante entrou na onda, transformando a Javari num verdadeiro duelo de babacas. Mas fazer o quê? É o que temos pra hoje.

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