A Copinha de 2019 não poderia ter começado de forma mais desastrosa para a Inter de Limeira. A equipe do interior paulista estreou sofrendo uma sonora goleada para o Avaí, na Rua Javari, pelo placar de 7×0, o que irritou muito os torcedores presentes e levantou acusações de que o elenco havia sido montado por empresários, a quem não interessava o desempenho da equipe, mas sim a venda de seus atletas.
O grupo tinha ainda o Juventus, que naquele mesmo dia havia vencido o América de Natal por 1×0. Com essa combinação de resultados, chegava-se à segunda rodada com possibilidades de uma definição do futuro do grupo já ali. E apesar da Inter de Limeira mostrar muito mais brio diante do Juventus, estava matematicamente eliminada até os 50 minutos do segundo tempo quando, após tentar defender uma cobrança de falta com os pés, o goleiro do Juventus acabou soltando a bola no pé do atacante da Inter, que empatou o jogo em 1×1. Ainda assim esse era um resultado ruim, visto que Avaí e América de Natal ainda se enfrentariam, e um empate ou vitória catarinense no confronto também deixaria a Inter de Limeira virtualmente eliminada, uma vez que precisaria de uma combinação quase impossível na última rodada: que o Juventus perdesse do Avaí até poderia acontecer, mas que os oito gols de saldo que o Moleque tinha de vantagem fossem superados, era bastante improvável.
Acontece que o futebol é um esporte apaixonante porque é imprevisível. E no segundo jogo, o América de Natal derrotou o Avaí, contando com amplo apoio da torcida juventina que continuava no estádio e com uma das melhores atuações que eu já vi um goleiro ter na minha vida. Rokenedy, então com 16 anos, foi ovacionado na Javari, mas essa é uma história para outro dia.
Deste modo, todos os times foram para a terceira rodada com chances reais de classificação. O estádio encheu cedo para o primeiro jogo naquela ocasião, quando o América de Natal enfrentava a Inter de Limeira. E como os potiguares haviam contado com o apoio da torcida no último jogo, esperava a mesma recepção. Mas a torcida do Juventus bem sabia que não o time não era favorito diante do Avaí, pelo que uma vitória do América poderia eliminar o Moleque Travesso, então naquele dia a torcida era pela Inter de Limeira.
Aquele foi, até hoje, o melhor jogo que eu já vi em estádios. Um jogo aberto, franco, com gols bonitos, um empate improvável e um desfecho heroico. E terminou com a Inter de Limeira vencendo a partida pelo placar de 4×3, ultrapassando o Avaí e chegando à segunda colocação da chave. Mas para lá permanecer, os catarinenses não poderiam pontuar.
Só que logo de cara o Avaí saiu na frente contra o Juventus, e jogava bem melhor. Mas uma trapalhada do goleiro catarinense, que saiu socando tudo o que via pela frente, fazendo assim pênalti, permitiu ao Juventus chegar ao empate.
No começo do segundo tempo, o Juventus recebeu duas notícias, uma boa e outra ruim: a boa foi que o volante da equipe arriscou da intermediária e virou o jogo; a ruim era que o mesmo volante, no auge da emoção, esquecendo-se de que já havia recebido cartão amarelo no primeiro tempo, subiu no alambrado durante a comemoração, sendo expulso logo na sequência. O Avaí começou uma pressão insana, e o Juventus se complicaria ainda mais quando, após escorregar e perder a bola, o lateral-direito segurou com as mãos as pernas do atacante do Avaí que sairia livre na direção do gol, e também foi expulso.
O Juventus estava conseguindo uma vitória que beirava o inacreditável. Sabendo da história de cinema que estava acontecendo na Rua Javari, os jogadores da Inter de Limeira, vestidos com camisas de sua equipe, apareceram no meio da torcida do Juventus lá pelos 30 minutos do segundo tempo, animando a torcida que na parte central do estádio, roía as unhas e acompanhava o jogo angustiada, pulando e cantando a plenos pulmões, :
“JUVENTUS, JUVENTUS!!!”
Embora fosse linda e fantástica a história que acontecia na Javari, aos 46 minutos do segundo tempo, depois de muita pressão, o Avaí empatou o jogo, o que acabou com o ânimo dos atletas da Inter — sabiam que naquelas condições o Juventus não conseguiria fazer outro gol. Para o Juventus, até que não estava tão ruim: a equipe ainda se classificaria em primeiro, fugiria do Atlético Mineiro na fase seguinte e teria o Água Santa pela frente. Ou pelo menos era isso que imaginávamos, porque aos 50 minutos, em cobrança de escanteio, o Avaí virou a partida e acabou com a graça de todo mundo no estádio.
Toda a história construída em 90 minutos caiu por terra em 5 minutos de acréscimo. Mas a garra e a determinação dos quatro times desse grupo acabam ficando marcadas na história da Copinha.
