Eu sempre acreditei que, mais do que um esporte, o futebol é uma forma de criar lembranças. E pra mim, o que sempre me aproximou do meu pai foi o futebol feminino. A situação era complexa: ele era corintiano, eu palmeirense; ele não gostava da Seleção Masculina, sabe-se lá por qual motivo, eu sim. E os únicos jogos onde eu conseguia construir boas memórias com o meu pai eram os do Torneio Internacional Cidade de São Paulo, que aconteciam a cada mês de dezembro e a gente assistia junto na tela da Band.
No dia 9 de junho de 2019 completaria 10 meses do falecimento do meu pai. Na mesma data, a Seleção Brasileira de Futebol Feminino entraria em campo, na França, para enfrentar a Jamaica em sua primeira partida da Copa do Mundo daquele ano. Apesar disso, o Campeonato Paulista de Futebol Feminino seguia normalmente, algo impensável no futebol masculino, mas comum à atenção que eram dispensadas à época ao futebol feminino, mesmo que estivéssemos falando da melhor federação do Brasil.
Por isso, no dia 8 de junho, sábado, junto com meu amigo Leonardo, nos dirigimos à Rua Javari para acompanhar o meu primeiro jogo de futebol feminino no estádio. O Juventus enfrentaria o Santos.
O que vimos foi um jogo bastante desigual, onde a muito mais forte equipe do Santos controlou a partida do início ao fim, e acabou ganhando por 8×1. Ainda assim, a técnica do Santos na ocasião, Emily Lima, ex-treinadora da Seleção Brasileira (atualmente na Seleção Peruana), foi expulsa reclamando do gol juventino, pois ela considerou que a atleta do Juventus havia atrapalhado sua goleira, que acabou soltando a bola dentro do gol.
Mas estando na Rua Javari, onde a arquibancada é muito próxima ao campo, assim que deixou o gramado ela se posicionou atrás do gol do estacionamento, onde tradicionalmente fica a Torcida Jujovem, mas que naquela manhã estava vazia, e de lá permaneceu conversando com a goleira.
Quando vimos que o jogo estava no fim, chamei meu amigo pra pedir uma foto com ela. Ela foi muito gentil e nos atendeu muito bem. Na sequência, percebemos que as jogadoras do Santos sairiam pelos vestiários que passavam por ali, e uma delas era a Maurine. Apesar de estar com a camisa do Juventus naquele dia, o clima estava amistoso, havia torcedores misturados, ainda que uma parte de santistas tenha preferido ficar no setor tradicionalmente visitante. E então conseguimos falar com ela, que também nos atendeu muito cordialmente.
E foi assim, no dia de uma derrota catastrófica do Juventus, onde eu percebi que a acessibilidade às atletas do futebol feminino seria sempre muito mais fácil do que no futebol masculino.