A PM e o vidro

A Polícia Militar, em todo o Brasil, eu diria, sempre teve uma atuação um pouco controversa quando o assunto é futebol. Esta é uma situação que fica a cada dia mais escancarada, diante de tantas cenas de violência da polícia para com os torcedores, conforme acontecido na final da Copa do Brasil de 2024, entre Atlético Mineiro e Flamengo, ou ainda os fatos ocorridos nos confrontos contra estrangeiros no Rio de Janeiro, por exemplo.

Por outro lado, o processo de “arenização” do futebol brasileiro também traz graves consequências ao menino futebol. No Allianz Parque, em novembro de 2024, o Palmeiras recebeu a Ferroviária pela semifinal do Campeonato Paulista de Futebol Feminino, em jogo que contou com resgate gratuito de ingressos.

Além disso, o Palmeiras não teve sua principal organizada neste jogo, devidamente suspensa das imediações do estádio após assassinar um torcedor do Cruzeiro. E o resultado disso foi um público pequeno, no setor central do estádio, com todos sentados.

Apesar da maioria dos frequentadores do Allianz Parque hoje acreditarem que estão em um teatro (exceto nos shows), nem todos são assim. Alguns se levantaram e foram torcer em pé, encostados no vidro ao final das cadeiras. No futebol feminino, esse lugar é especialmente bom porque te permite acesso às jogadoras que vêm tirar foto ao final das partidas.

Mas os torcedores do “modo teatro” não gostaram. Atrapalharam a visão deles. Os profissionais do Allianz Parque entraram em ação e pediram para que os torcedores que estavam no vidro fossem se sentar. Foram devida e justamente ignorados, como também seriam nos jogos do futebol masculino. Mas esses profissionais sabem que o público que frequenta as partidas de futebol feminino não é exatamente o mesmo que frequenta os jogos do masculino; em geral, são mais famílias e pessoas que não têm tanto o costume de frequentar estádios. Pelo que, para eles, é mais fácil de intimidar.

Após muito insistir e ninguém lhes dar ouvidos, eles acharam de bom tom, aos 41 minutos do segundo tempo, chamar o Choque para tirar os torcedores do vidro. A PM veio, tirou um torcedor que estava mais exaltado, mas não conseguiu fazer nada contra todo o resto que estava parado no vidro, e lá eles permaneceram. Ao final do jogo, muitos dos que estavam ali e outras crianças que vieram numa excursão do SESI Mauá para o jogo conseguiram o que buscavam: fotos com as atletas. Por mais que tentem, por mais que sejam poucos, o futebol e os torcedores hão de resistir ao futebol moderno, à arenização do esporte e aos esforços do poder público em afastar o povão dos estádios. Vamos sobreviver.

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