O dia em que eu apareci na TV

2015 foi o ano em que eu comecei a procurar jogos aleatórios para assistir no estádio. Apenas começando essa aventura, descobri um jogo entre Mauaense x Portuguesa Santista, que aconteceria em minha cidade, Mauá, e seria televisionado pela Rede Vida, válida pela Segunda Divisão, à época quarto nível, do futebol paulista.

Acontece que o dia começou com uma chuvarada. O jogo começaria às 10h30, e sem levar guarda-chuva, pois sabia que a entrada do item não seria permitida, ao chegar no estádio, que na época não tinha nada de coberto, a não ser a marquise e os supostos camarotes, do outro lado do campo, fiquei um tempo parado sob a marquise, olhando pro tempo, pensando no que fazer e criando coragem para me molhar.

Percebendo minha hesitação, o senhor que trabalhava vendendo o ingresso disse pra mim, pura e simplesmente, como se fosse a coisa mais normal do mundo: “Abre o portão pro setor visitante aqui, passa pela entrada de ambulância, dentro do campo, e vai lá junto com a diretoria da Portuguesa Santista assistir, lá está coberto”. Sim, ele me mandou pro camarote, e como a família de um jogador do Mauaense chegara junto comigo e foi sem pensar duas vezes, eu fui atrás.

Lembro de passar ao lado do gramado, onde os jogadores do Mauaense realizavam o aquecimento, e do profissional lá responsável por essas coisas dizer que “esses caras não são nossos”, se referindo a nós, até o homem que ia na frente mostrar a camisa do Grêmio Mauaense e ele calar a boca.

O gramado parecia regular, quer dizer, já era ruim normalmente, mas parecia aguentar com bravura o aguaceiro que caía. Até começar o jogo, quando foi visível que tudo não passava de uma ilusão, e que as poças d’água atrapalhariam completamente o jogo. Lembro de uma falta acontecer dentro de uma poça gigantesca, e o árbitro do jogo obrigar a Portuguesa Santista a cobrar ali mesmo, nem mais pra frente, nem mais pra trás.

Outro ponto era o gandula do Mauaense, que ficava jogando a bola propositalmente numa poça gigantesca que se formou na frente do alambrado do “camarote”, visando molhar as pessoas ligadas à Portuguesa Santista, exatamente onde eu estava. No primeiro tempo, o árbitro deu uma dura, e no segundo, depois que eu descobri que a parte destinada aos mauaenses era a superior e já estava lá em cima, expulsou o gandula após ele repetir a dose.

O jogo foi muito ruim, mais do que o normal. A água não deixava a bola rolar normalmente, e chances de gols quase não existiram. No segundo tempo, a chuva parou, o gramado melhorou um pouco e a Portuguesa Santista conseguiu ganhar por 2×0, com um dos gols sendo uma falha absurda do goleiro, que saiu pra dar um chutão, mas foi traído pela bola, que parou numa poça, acabou furando e deixou o caminho livre para o atacante concluir para o gol vazio.

Ao final do jogo, correndo contra o tempo — e contra a ambulância — eu saí correndo pelo meio dos jogadores do Mauaense, que desciam consternados para o vestiário, que ficava logo ao lado do espaço onde fiquei, para conseguir sair do estádio antes do portão se fechar. O público já não era grande normalmente, ainda mais naquele dia chuvoso, com o Mauaense em uma fase ruim, já perto de ser eliminado da competição. A maioria dos presentes vinham de Santos, para tentar empurrar a Briosa para uma classificação que também se mostrava difícil — aquela era a primeira vitória da equipe nos últimos oito jogos. Naquele ano, a Briosa acabou parando mesmo na primeira fase. Um desses poucos torcedores, após passar o jogo inteiro sem se molhar, assim que tirou a capa de chuva, escorregou ao tentar descer uma pequena escada de terra feita para facilitar o acesso dos torcedores à entrada principal do estádio, e acabou com a bunda cheia de terra, para a alegria dos seus companheiros de torcida, que riram muito e se divertiram com o acontecido.

Mas as novidades só terminaram na hora que eu cheguei em casa, quando minha mãe, que conhecia o estádio, perguntou:

“Por que você ficou na parte coberta hoje?”

“Porque estava chovendo. Mas… como você sabe que eu fiquei na parte coberta hoje?”

“Porque você apareceu na TV.”

Então era isso. Eu apareci na TV. Mas infelizmente nunca consegui encontrar essa imagem.

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