Os ônibus de Suzano

Hoje em dia, há uma divisão clara nas pessoas que consomem o futebol. Existem as pessoas que querem transformar o futebol numa grande MLS (afinal, onde já viu um time de uma cidade pequena ousar ser competente e chegar na Série A enquanto os times de massa de tal lugar não conseguem sair da Série D?). Essas são as pessoas que gostam de dinheiro, não gostam de futebol, embora pensem que são o contrário. Assistem o jogo ali pela TV, quando muito, e preferem reclamar que o estádio não está lotado do que do pênalti que o juiz não marcou.

Mas também existem aquelas pessoas, das quais felizmente faço parte, que gostam do futebol, que preferem muito mais ir a um jogo num estádio pequeno do que numa arena. Fato incontestável é que estádio pequeno tem muito mais história legal do que estádio grande. E não precisa nem ir muito longe: na grande São Paulo mesmo, em Suzano, o bonito e bem cuidado estádio Francisco Marques Figueira possui lá as suas peculiaridades.

Pra começo de conversa, o estádio possui uma horta ao lado do setor destinado à torcida visitante. Mas o que trouxe os holofotes para o estádio no cenário nacional, durante a Copinha (sempre ela) de 2025, foi outra coisa.

Enquanto jogavam União Suzano e Portuguesa no gramado, fora dele, os atletas do primeiro jogo (inclusive o primeiro jogo foi uma surpreendente vitória do Madureira contra o Goiás) deixavam o estádio de ônibus. Acontece que pra deixar o estádio, os ônibus das equipes precisavam passar no meio da torcida, entre o gramado e arquibancada. Percebendo o fato, que não deixa de ser curioso, os narradores repercutiram e o vídeo viralizou.

Mas tem muito mais contexto por trás dessa história que só quem estava no estádio conseguiu acompanhar. Pra começo de conversa, os ônibus saíam do vestiário e passavam pelo meio da torcida visitante (que estava em bom número, afinal era um jogo da Portuguesa na grande São Paulo). Chegando ao fim do setor, era preciso abrir um portão que separa a torcida visitante da mandante, para que os ônibus pudessem passar e seguir pelo setor mandante até a saída do estádio. Felizmente, na altura em que o vídeo foi gravado, o jogo estava equilibrado e os ânimos, calmos. Depois, a Portuguesa ganhou de 5×0 e houve provocações de lado a lado, o que irritou alguns torcedores e certamente teria causado problemas de segurança se acontecessem quando o portão estivesse aberto.

Mas voltando aos ônibus, naquele dia eles ficaram um tempão parados no portão do estádio antes de deixar o local, porque o público era grande e a saída estava obstruída por um Ônix, um Nissan Kicks e um terceiro carro que não me lembro o modelo. O autofalante do estádio anunciou repetidas vezes que os donos dos carros deveriam retirar os veículos do portão, mas quem ia? Seria impossível achar uma vaga perto depois. Deu o que fazer pra conseguir desobstruir o acesso para que os clubes pudessem enfim retornar ao hotel.

Agora me diga: em qual arena do Brasil a gente veria uma história tão maravilhosa dessas?

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