O estádio municipal de Mauá possui algumas peculiaridades que permitem algumas situações diferentes do que se vê em outros estádios por aí. Mas é claro que eu não sabia disso na primeira vez em que compareci a uma partida lá, em 2015, em uma partida entre Mauaense x Manthiqueira.
Naquela ocasião, quando cheguei no estádio, percebi que alguns torcedores se reuniam no que seria uma espécie de torcida organizada do Mauaense. Mas não era tão organizada assim. Um dos membros havia comparecido com a camisa do Sport Club Atibaia (atual Esporte Clube Lemense), cor de laranja (atualmente a cor do time é azul), a mesma cor da camisa do Manthiqueira, pelo que alguns riam da cara dele.
“Olha a cor da camisa que você vem pro jogo, mesma cor do adversário hoje.”
Era uma época legal. Hoje em dia, por alguma razão, esses grupos já não frequentam os jogos em Mauá, nem do Mauaense, nem do Mauá, que seria fundado três anos depois desse episódio que eu conto.
No meio desse grupo de torcedores, havia um que estava visivelmente embriagado, mas que era o mais animado deles. Ele tentava cantar várias músicas dos times grandes, adaptando para a realidade do Grêmio Mauaense, e incentivando os presentes a cantarem. Mas o problema é que o jogo não tava muito bom, e os presentes foram desanimando com o passar do tempo.
O bêbado então arrumou alguma outra coisa para se entreter. Depois, apostou corrida contra uma criança, e quando percebeu que uma bola chutada do campo foi parar na arquibancada, foi fazer as vezes de gandula. Foi aí que a história fica interessante, mais do que já estava.
Não satisfeito em pegar a bola e devolvê-la ao gandula, ele se dirigiu a um portão que dá acesso ao campo, justamente para que os gandulas possam sair e buscar as bolas que caem no fosso do estádio, e ficou gritando que queria entrar no campo. Obviamente, não deixaram. Ele insistiu o quanto pôde, mas desistiu e parou de falar, sumindo da vista de todos os torcedores. Alguns respiraram aliviados, ele já estava incomodando; outros se perguntavam onde ele tinha ido parar, dado que o sumiço já durava demais.
Nesse ínterim, o jogo prosseguiu normalmente, e ninguém viu nada demais. Até que um rapaz no meio da torcida, apontando para o outro lado do campo, gritou:
“O BÊBADO INVADIU O CAMPO!”
Sim, ele tinha cruzado toda a extensão da arquibancada, passado pelo setor visitante, que raras vezes fica fechado, geralmente sempre permanece aberto, e conseguiu passar pelo portão de entrada das ambulâncias, e estava dentro do campo. Ele não chegou a paralisar o jogo, porque um gandula percebeu e conseguiu intercepta-lo, levando-o para os mesmos camarotes que eu fiquei na semana seguinte, na partida contra a Portuguesa Santista. Depois, não tivemos mais notícias dele. Mas esse é um cuidado que falta para os jogos em Mauá. Todas as partidas são muito desorganizadas, e em jogos com baixo público visitante, ou seja, quase todos, é muito possível fazer esse tipo de coisa. A estrutura do estádio permite, e não há esforços para evitar.