A Rua Javari tem o costume de colocar para atuar comp gandulas alguns estudantes de arbitragem da Federação Paulista de Futebol. Enquanto estudam, são também os responsáveis por repor a bola em jogo nas partidas que acontecem no estádio do Juventus da Mooca. Mas nem todo mundo sabe disso.
O que todo mundo sabe, pelo menos quem já foi à Javari, é que a arquibancada fica muito perto do campo. Se árbitros, bandeirinhas e jogadores não escapam das ofensas nem das brincadeiras do público, os gandulas às vezes também não.
A história de hoje aconteceu na abertura da Copinha de 2024, quando o Juventus venceu o Monte Azul por 1×0. Nesse dia, eu acabei ficando atrás do gol do estacionamento, lugar normalmente ocupado pela JuJovem. E todo mundo que ficou ali já tinha percebido que a gandula que trabalhava atrás do gol naquela ocasião tinha dado ideia pra torcida e já estava entrosando uma conversa com alguns torcedores.
Acontece que a área atrás dos gols da Javari são um pouco mais fundas do que o resto da linha de fundo. Ou seja, as placas de publicidade, seguem grudadas no alambrado durante toda a linha de fundo, menos atrás dos gols, onde tem ainda um espaço atrás das placas. E aconteceu que a bola caiu exatamente nesse espaço.
A menina era muito baixa, e as placas de publicidade batiam na barriga dela. Ela não conseguiria pegar a bola sem pular. E quando ela fez a primeira menção de colocar a perna pra saltar sobre a placa, a torcida inteira vibrou como se fosse um gol.
“EEEEHHHHH!”
Ela parou o que estava fazendo pra rir, e depois tentou de novo.
“EEEEHHHHH!”
Ela desistiu e foi pedir ajuda para outro gandula, que trabalhava na lateral do campo. Vendo o acontecido, a torcida começou a gritar, completamente alheia ou que estava acontecendo no campo de jogo.
“Pula, pula, pula!”
Ela não conseguiu pular, e o rapaz que veio ajudá-la nem mesmo precisou fazê-lo. Muito simpática, ela entrou na brincadeira e vibrou com a torcida, seguindo depois batendo papo com um torcedor, que já a conhecia. Foi assim que eu descobri que ela era bandeirinha.
“Meu sonho é bandeirar uma Copinha”, disse ela.
“Tem que ter sonho de bandeirar é a Champions, quer bandeirar Copinha?”, disse o torcedor, em tom jocoso, claramente entendendo o que a moça tinha falado.
“Ninguém nasce lá em cima”, completou a moça.
Interessante também foi a maneira como eu descobri de quem se tratava a moça.
Na segunda fase da competição, eu fiquei dividido entre ir no jogo Ibrachina x Macapá ou Juventus x Avaí. A Federação Paulista de Futebol, inimiga do torcedor, marcou os dois jogos para o mesmo horário, e também a partida entre Coritiba x Retrô, no estádio Nicolau Alayon, por isso eu deveria escolher um de três.
Sabendo que ia pra Mooca desde o princípio, faltava escolher o jogo. Como Juventus x Avaí é um jogo que eu já estou careca de ver na Copinha, aliás, o Avaí é o time que eu mais vi em sedes diferentes da Copinha (Nicolau Alayon, Rua Javari e Mauá), escolhi Ibrachina x Macapá, um jogo que dificilmente poderia voltar a acontecer na história. Enquanto o Ibrachina eliminava o Macapá na Rua Borges de Figueiredo, o Juventus eliminava o Avaí na Javari, e eu ouvia essa partida pela Web Rádio Mooca, quando o comentarista disse.
“O Juventus tem uma parceria muito bacana com a federação. Todos os gandulas daqui são estudantes da arbitragens na federação. Inclusive a gandula que está atrás do gol defendido pelo Juventus nesse segundo tempo é uma excelente bandeirinha”, falando em seguida o nome dela.
E foi assim. Ouvindo um jogo no bom e velho rádio que eu descobri que o nome da auxiliar-gandula.