O estádio municipal de Mauá é um caso a parte. O portão principal do estádio, que fica na avenida Papa João XXIII, é usado, ou pelo menos deveria ser usado, pela torcida visitante, ao passo que a torcida mandante deveria usar o portão superior, numa localização de difícil acesso. Este segundo portão já era, por lógica, o mais usado do estádio, visto que muitas vezes as torcidas visitantes também entravam por ali. Mas até onde se saiba, ainda que as torcidas entrassem pelo mesmo portão, como nunca eram muitos, era possível separá-los adequadamente dentro do estádio.
Mas depois da pandemia os dois times mandantes no estádio, junto com a PM, adotaram uma postura meio perigosa: uma vez que não muitos torcedores compareciam às partidas, nem mesmo nas Copinhas de 2022 e 2023 (o que pra mim foi uma grande surpresa, já que em 2020 foi um grande sucesso de público na cidade), eles deixaram de dividir os torcedores.
Já aconteceram casos de torcedores mandantes e visitantes se tornarem amigos nessas ocasiões, como numa partida entre Mauá x Jabaquara em 2023, quando um torcedor do Jabaquara passou o primeiro tempo inteiro isolado no espaço dos visitantes, mas no intervalo foi convidado pelos torcedores do Mauá que haviam ido à lanchonete (que também fica no setor visitante, pelo menos a que abre) para ficar no centro do campo e ter uma visão melhor.
Mas nem sempre o clima é tão amistoso assim. A história de hoje aconteceu no dia da final da Champions League em 2022. Eu estava assistindo um jogo muito mais importante no estádio, Mauá x Colorado de Caieiras, e ambas as torcidas estavam juntas. O Mauá abriu o placar e tudo parecia as mil maravilhas, mas depois o Colorado virou o jogo com graves falhas, uma da defesa e outra do goleiro. Foi quando um torcedor do Mauá, exaltado, gritou para a sua equipe no campo.
“Onde já se viu, perder em casa deste time de várzea.”
Tudo parecia ter ficado por isso mesmo, mas minutos depois, quando o juiz apitou o fim do jogo, confirmando a vitória dos visitantes, alguns torcedores de Caieiras, aparentemente alterados, vieram na direção do rapaz.
“Quem que é o time de várzea agora? Respeita nós, irmão!”
O mauaense não abaixou a cabeça.
“É time de várzea mesmo, é time de várzea mesmo.”
Foi quando um senhor também de Caieiras, vendo o clima hostil, decidiu intervir e separar o grupo. A polícia também não demorou a perceber que havia algo errado, mas quando chegou o clima já estava ameno e eles ficaram apenas observando. Ao passo que o homem levou os seus amigos pra fora o mais rápido possível, nós, que estávamos torcendo pela equipe da casa, esperamos ainda alguns minutos antes de deixar o estádio.
Outros incidentes conhecidos aconteceram em clássicos, onde estava na cara que ia dar problema, visto que nem as diretorias e nem as torcidas dos dois times na cidade se entendiam bem. Mas mesmo com essas situações perigosas, eu diria, não há sinal de que haja qualquer articulação entre times e polícia para alterar o esquema de distribuição de torcedores no estádio. Não obstante, também é muito comum que torcedores visitantes sejam maioria em algumas partidas. Em 2024, o destaque foi para Mauaense x Araçatuba (a torcida do Araçatuba veio em tal número que ela sim precisou ser alocada na área dos visitantes) e Mauá x Tupã, onde os visitantes estavam em número maior, e até mesmo o ECUS de Suzano tem conseguido levar mais gente ao estádio de Mauá do que os times da cidade. Pode ser que, devido a isso, as diretorias contem com o bom senso dos que ainda vão nos jogos das equipes de Mauá, e deixem a situação como está para tentar trazer mais público visitante. Ainda assim, esse tipo de “torcida mista” é uma particularidade do Pedro Benedetti.