A Bezinha de 2023 foi mais emocionante do que todas as outras edições da competição até então. Isso porque eram 36 participantes, dos quais dois ascenderiam à Série A3, 14 permaneceriam no quarto nível, e outros 20 seriam rebaixados à recém-criada quinta divisão. A primeira fase contava com seis grupos de seis times cada, dos quais quatro se classificavam e os dois últimos estariam rebaixados. E no grupo 6, a última rodada estava pegando fogo.
Com Jabaquara e Nacional já classificados e o ECUS já rebaixado, Mauá, Mauaense e Barcelona chegaram na mesma rodada brigando pelas duas últimas vagas na próxima fase e ao mesmo tempo lutando contra o rebaixamento. A situação mais difícil era a do Mauaense, que precisaria ganhar por dois gols de diferença do Nacional, lá na Barra Funda, ou ganhar e torcer para alguém vencer a partida entre Mauá x Barcelona, no ABC Paulista.
Foi pensando nisso que eu cheguei na porta do estádio Pedro Benedetti, no dia 24 de junho de 2023, para comprar um ingresso. Foi quando um rapaz vestido de chapéu caipira e um celular na mão se aproximou de mim e de outros dois torcedores com a camisa do Mauá, pedindo para fazer uma entrevista. Era o Mundo Cridife e seu quadro torcedor de aluguel.
Ele fez algumas perguntas pra gente, no meu caso, eu lembro de ter respondido que não gostaria que o Mauá fizesse jogo de compadres (um empate dificultaria a vida do Mauaense), que achava que o time tinha que ganhar e deixar o Mauaense se matar com o Nacional, e ainda cornetei o meu amigo Leonardo, que antes ia nos jogos mas desde 2022 esqueceu que tem time na cidade.
Depois propôs uma dinâmica: dizer qual foi o primeiro jogo profissional da história do Mauá. Era fácil. Havia sido justamente contra o Barcelona, um 0x0 na Javari em 2018. E por fim, como era dia de São João, ele pediu pra gente pular a fogueira. Qual era a fogueira? Um palito de fósforo. Não vou dizer mais nada, vendo é muito mais engraçado do que falando.
Quanto ao jogo, foi horrível. Tenebroso mesmo para o nível da divisão. Terminou 0x0, e no final do jogo, quando o Barcelona tentava alguma pressão quase desesperada, alguém da comissão técnica do Mauá disse:
“Vamos segurar, vamos segurar, estamos passando nós dois.”
Naquele momento o Mauaense vencia o Nacional por 2×1 — o resultado não era suficiente para a classificação, e pro Mauá tava lindo: se classificava na terceira posição enquanto o rival seria rebaixado. Mas o técnico do Barcelona foi prudente.
“Segurar nada não, Nacional tá com o time reserva, se eles fazem mais um lá a gente roda.”
Ele não poderia estar mais certo quanto a isso. O Mauaense fez no final do jogo o terceiro gol, e a dupla de Mauá acabou se classificando para a fase seguinte. Depois, também foram rebaixados no segundo corte, mas naquele momento, era evidente a tristeza no rosto dos funcionários e jogadores do Barcelona, que há tempos não fazia uma campanha de classificação para a segunda fase, e agora via escapar a vaga nos últimos momentos da última rodada.