A maior chuva de todos os tempos

Ainda sobre futebol, algo que sempre me interessou foi jogar bola na chuva, principalmente quando a chuva era forte e dois minutos depois você já estava completamente encharcado. O que nunca tinha experimentado de verdade, até o dia 1º de setembro de 2019, era assistir a um jogo de futebol sob uma chuva torrencial.

Após a Copa do Mundo de 2014, o tradicional torneio de futebol feminino que acontecia no Pacaembu no mês de dezembro foi levado para a Arena da Amazônia, em Manaus, e para o Mané Garrincha, em Brasília, numa tentativa de aproveitar as estruturas construídas para o Mundial que não eram utilizadas por clubes locais. Em Manaus, o Iranduba ainda vivia uma fase muito boa no futebol feminino, e chegou a ser detentor do recorde de público do futebol feminino brasileiro por determinado período, mas a tentativa de levar o torneio para a capital federal foi um fracasso, e a competição acabou extinta nos anos seguintes.

Mas na data FIFA entre o final de agosto e o começo de setembro de 2019, a Uber tentou trazer uma competição internacional de futebol feminino para o Pacaembu, embora com formato diferente e com apenas dois jogos por equipe — antes eram quatro. Participaram então, além da Seleção Brasileira, o Chile, a Argentina e a Costa Rica.

Em 28 de agosto, dia do meu aniversário de 20 anos, o Chile derrotou a Costa Rica por 1×0. Mais tarde, no mesmo dia, o Brasil venceu o clássico contra a Argentina por 5×0. No domingo seguinte, as seleções fariam mais dois jogos: a disputa pelo terceiro lugar e a final do campeonato.

Como já foi citado em uma história anterior que falava sobre o futebol feminino, os jogos do Torneio Internacional Cidade de São Paulo eram o único momento no qual eu tinha um contato mais próximo com meu pai quando o assunto era futebol. Naquela altura, era completado havia pouco um ano do falecimento do meu pai, mas ainda assim foi o presente de aniversário que eu pedi pra minha mãe naquele ano: ingresso para comparecer aos jogos finais no Pacaembu. Comigo foram meu amigo Marco e seus filhos, Murilo e Ronnie.

Essa história já começa interessante porque decidimos visitar o Museu do Futebol antes. Se não me engano, a gente enfrentou muita fila pra entrar no estádio antes do primeiro jogo, a decisão do terceiro lugar entre Argentina x Costa Rica, mas conseguimos entrar ainda durante a execução do Hino Nacional Argentino. Já naquela altura era possível entender, pelas nuvens que pairavam sobre São Paulo, que o mundo ia cair.

Durante o primeiro jogo, entretanto, nem uma única gota caiu do céu. A Costa Rica ficou com o terceiro lugar, para a felicidade do estádio, após derrotar a Argentina por 3×1. E para a minha alegria e a alegria de muitos dos que estavam no mesmo setor que eu, torcedores da Costa Rica também estavam naquele setor, e as atletas vieram celebrar com eles na arquibancada. Aproveitando-se disso, os brasileiros também colaram no alambrado, com o intuito de conseguir fotografias, e talvez a história mais interessante desse dia, nem seja a chuva. Talvez seja o futebol fazendo o seu papel de ser mais do que futebol.

Com pouco mais de 100 dias de ofensiva no Duolingo, eu já me julgava capaz de manter um diálogo em espanhol e achava que seria fácil fazê-lo. Mas quando cheguei diante das jogadoras pra tirar foto, não consegui nem mesmo lhes dizer um simples “gracias”. Claro, consegui tirar foto com três jogadoras costarriquenses naquele dia: Carol Sanchéz, Noelia Bermúdez e Melissa Herrera. Quando da publicação deste texto, aquela mesma ofensiva que passava dos 100 dias em 2019 ainda não foi interrompida, chegando a 2060 dias seguidos de estudos no aplicativo. Mas foi a incapacidade de me comunicar com as atletas em espanhol naquela ocasião que me fez entender que, se eu quisesse realmente aprender espanhol, somente o Duolingo não seria suficiente, eu precisaria ter contato com nativos. Foi assim que eu decidi procurar e encontrei diversas amizades no exterior, que mais tarde me levaria a experiências que eu nunca imaginei viver.

Mas voltando àquela tarde, antes mesmo de começar o jogo do Brasil, era nítido que ia chover. Foi por isso que eu tirei minha blusa e coloquei uma capa de chuva. Quando a chuva veio, lavou São Paulo de forma como poucas vezes se viu. Foi uma tempestade, com chuvas e ventos, que perdurou por pelo menos uma hora. As placas de publicidade, no campo, caíram mais de uma vez com o vento, e em campo, o jogo ficou muito ruim. Era o segundo jogo da treinadora sueca Pia Sundhage no Brasil, e para essa partida, ela tinha apostado num ataque um pouco mais móvel, apostando sobretudo na velocidade da atacante Ludmila. Mas com o campo encharcado, não deu certo e as chilenas não tiveram dificuldade em marcar o ataque brasileiro.

Como não poderia ser diferente, o jogo foi para os pênaltis. Foi quando uma moça, atrás de mim, me cutucou e perguntou: “essa blusa é sua?” Então eu olhei pra baixo. Havia deixado minha blusa embaixo da minha cadeira. A enxurrada descia com tanta força por ali que muito me surpreendeu a blusa ainda estar lá. Na hora que eu fui embora, eu entendi o porquê. Minha blusa estava pesando uma tonelada de tão encharcada que ficou.

Quanto aos pênaltis (e aquela era a primeira vez que eu via pênaltis no estádio), a goleira Aline Reis ainda conseguiu defender três cobranças, entre elas a da goleira adversária, Cristiane Endler, que sempre demonstrou um futebol muito acima do comum para a posição e naquela altura era a melhor goleira do mundo. Endler pegou dois, mais outros dois as brasileiras chutaram pra fora e o Chile acabou campeão daquele torneio, que depois disso, infelizmente, não voltou mais a acontecer.

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